02
ago
2016

Transtorno mental: ter ou ser?


Em um mundo onde o Google se tornou psicólogo e médico e todos têm algum transtorno mental, tenho medo de abrir a boca e, sem perceber, invalidar o sofrimento de alguém, mas ficar calada quando vejo pessoas se “vestindo de doença” e apelando para os remédios é um tremendo erro.

Adoramos dizer por aí que não gostamos de ser rotulados, discursar sobre subjetividade – mesmo sem nem saber o que é isso – e sobre como cada ser humano é único... Mas, muitas vezes, não conseguimos fugir da zona de conforto que é o rótulo de uma doença de ordem psíquica.

É mais “fácil” se aceitar como pessoa depressiva (por exemplo) e, dessa forma, justificar tudo que dá errado em sua vida e suas falhas de caráter com a doença, do que procurar entender o que desencadeou esse sofrimento e ter que se colocar em posição vulnerável ao lidar com suas dores e defeitos.

É mais fácil ter todo mundo sentindo pena da gente.

Já tive depressão e entendo como colocar todos os nossos problemas como culpa da doença parece o melhor caminho. Mas não é. É como cobrir o machucado com a mão para a mãe não ver que você estava correndo quando ela mandou ficar quieto: não sara nada, só enche de bactéria e, cedo ou tarde, todo mundo vai ver.

Infelizmente, já presenciei conhecidos culpando o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH/DDA) por mentir para a namorada, chamando gestos estranhos que alguém fazia por puro maneirismo de “autismo” e sequer consigo contar quantas vezes ouvi coisas como “só preciso de remédio”! Ah, e por falar nisso...

REMÉDIO

Para minha “sorte”, sempre detestei remédio e evito ao máximo utilizá-los, por saber que o corpo se acostuma a eles e logo você tem que trocar por um mais forte. Além disso, nunca achei que fariam o trabalho todo e imaginava que havia possibilidade de se tornar um vício. Mais tarde, estudando psicologia, descobri que estava certa.

Remédio sem mudança de vida só gera dependência. 

Apenas o remédio só te emagrece demais, engorda demais, faz dormir demais, deixa elétrico demais, tira sua libido demais, dá a impressão de melhora rápido demais e, por fim, vicia na mesma velocidade.

Muitos dos transtornos que assolam nossa sociedade têm sua solução na psicoterapia. Na maioria dos episódios, não é necessário enfiar tarja preta goela abaixo para lidar com ansiedade leve e carregar a caixinha como atestado de doença (ou de tudo que gostamos de chamar de doença, mas não é).

Não sou contra remédios – são necessários em casos específicos –, mas, sim, contra a banalização do uso e sei que precisamos atingir um estado de equilíbrio, pois vivemos em extremos: de um lado, temos quem ainda crê que psicólogos e psiquiatras são “coisas para doido”; de outro, quem pesquisa seus sintomas no Google e já chega ao consultório com o próprio diagnóstico em mãos.


Profissionais da saúde, por favor, vamos fazer nosso trabalho direito.

Não adianta colocar a culpa apenas no paciente, quando muitos profissionais perpetuam essa prática e aceitam a fala do paciente sem se dar o trabalho de investigar. Para vocês terem um ideia, uma conhecida foi a uma médica e nutróloga buscando uma dieta e saiu do consultório com a receita de um antidepressivo porque disse que comia sem estar com fome”.

Ensinem seus clientes ou pacientes que assumir que não estão bem como primeiro passo para o tratamento é muito diferente de aceitar e desistir. Eles não são Ansiedade, Depressão, TOC, TDAH, Transtorno Maníaco-Depressivo ou Síndrome do Pânico. Eles são seres humanos.

Enfim... É ótimo que haja conscientização em relação a transtornos mentais, mas é péssimo que muitos tenham deixado de ser pessoas que, porventura, sofrem de algum mal, para se tornar a doença personificada.



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Comentários (7)

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Olá Saddy!
quanto tempo!
Foi um artigo que deixou pensar muito... Foi uma ótima decisão sua, pois depender do remédio isso se acostuma o corpo e não conseguira mais sair dessa rotina, remédio é para tratar sua doença mas se exagerarmos, pode virar uma droga. E sim, muitas pessoas já se manifestaram fingindo como uma doente de depressão apenas para se colocar de vítima e virar centro das atenções, na realidade, pessoa com depressão não consegue nem contar o que se passa nela.

Kiss
My recent post Pequeno comentário sobre profissão de artes
Oi, Saddy! Como colega de profissão (er, meio contra a vontade e sem exercer mas ok) que também já teve depressão, o título desse post me chamou a atenção, então vim ler pra saber o que você escreveu. Mas eu realmente não sei o que dizer. Acho que esse é um assunto super difícil, ainda mais hoje em dia em que ter uma doença mental é mais a regra do que a exceção. Além disso, muitas doenças mentais não podem sequer ser "provadas". A pessoa do seu lado pode ter uma doença mental grave e você não ter como saber ou provar. Já atendi gente que mal conseguia sair de casa, que não conseguia raciocinar direito, que via coisas. E às vezes ela já cansou de falar e ninguém ouvir, então ela nem fala sobre. E como nem todo mundo sabe sobre essas doenças, nem todo mundo consegue sequer imaginar como é o sofrimento dessa pessoa. É muito complexo.
Eu agradeço por você ter escrito esse post, porque eu fico pensando muito sobre isso e não sei chegar a uma conclusão. m(_ _)m Acho muito preocupante como cada dia parece que tem mais pessoas doentes e, ao mesmo tempo, é algo tão difícil de se falar sobre. Pessoalmente eu nunca achei psicólogo "desnecessário", mas também nunca fui quando precisava porque não tinha condições e sei que tem muita gente que nem eu era por aí. Fora que muito plano de saúde cobre médico mas não psicólogo, mas nem todo médico tem a sensibilidade de ouvir... enfim, várias coisas. Acho que o que a gente pode fazer quanto a isso é trabalhar da melhor maneira possível e buscar ajudar como puder com o nosso conhecimento. Enfim, muito obrigada pelo post, foi muito reconfortante! <3 :*
- Chell
1 resposta · ativo 453 semanas atrás
AH, esqueci de comentar o que eu mais queria comentar, lol. Vi esses dias isso aqui e achei super legal, ó: br.ign.com/brasil/33277/news/brasileira-desenvolve-jogo-sobre-depressao-e-ansiedade
Acho que era isso que eu queria dizer: se cada um tivesse uma ideia assim pra passar pro mundo pelo que passa, acho que a gente viveria melhor. :) Então, achei a iniciativa dela super legal e espero que outras assim possam vingar. :* Até!
My recent post Handa-kun 3 - Aprendendo a fazer pudim com Sei Handa
Muito reflexiva e verdadeira a sua publicação.
Digo isso porque eu moro com pessoas que sofrem de ansiedade e tenho amigos depressivos e panicosos e realmente sei o que eles passam, pq já presenciei crises e chorei junto com eles.
Ai sempre que encontro uma publicação de alguém que não está em um bom dia, começa a comparar aquilo com depressão, lê alguns sintomas no google e puft já está atestada.

Tem que procurar um profissional e tem que procurar a fundo o que te deixa mal..
Remédios ás vezes é desnecessário =/
Eu também não sou de ficar tomando muito remédio. Mas a solução de todo mundo, pra qualquer coisinha é sempre essa né? "toma remédio que passa" E não é bem assim. Tô numa fase complicated da minha vida também. Um desânimo do cããããão, as crises de ansiedade, etc etc. Nunca fui num psicologo, ainda, mas é por conta do $ e tempo, mas prometi a mim mesma que quando acabar a faculdade (60% do meu estresse) e eu não melhorar... Vou procurar ajudinha. Não é só o corpo que tem que estar saudável, a mente também né. Aliás, quanto você cobra pela consulta? Hahaha <3 www.prettythings.com.br
Oi, oi, Saddy!! Quanto tempo, moça, não!? Pois é... dei mais uma sumiça drástica e violenta pra cima do mundinho Blogger :[ Sorry~
Mas entrando no assunto...

Olha... para mim é difícil dizer sobre transtorno mental, pois eu nunca tive :/ Bom... mas eu tenho uma colega que tem (ou teve, não sei muito bem) depressão. E olha... ela fica bem mal '-' E daí eu fico com aquela cara de "OH GOD! KEKE FAÇO PRA AJUDAR??"
Eu já tentei dar vários conselhos para ela se recuperar, e por várias ignorâncias por parte dela acabamos brigando e tals... mas depois ela sempre acaba por pedir desculpas. É algo um tanto sério...
E em relação aos remédios, eu também sou bem contra o tipo do uso. Para qualquer coisa eu tento evitar o uso de remédios (tipo... estou com uma dor de cabeça. Prefiro descansar em um lugar silencioso ao invés de tomar remédio... e coisas do tipo).
Mas acho que o que ajuda é ir à um psicólogo e fazer várias terapias com firmeza (minha colega fez isso e, segundo ela, diz que está ajudando). E bom... eu sou cristã... então creio eu que pedindo orientação a Deus, ele ajudará a enfrentar os problemas.

Enfim... espero que possa melhorar! E cuidado com remédios! :/
Chu~
Me identifiquei com o texto, eu agora estou melhor mas mês passado estava com cris e de ansiedade seria, a ponto que sair de casa me dava vontade de desmaiar, era horrível falta de ar na hora de comer, nó na garganta....
Bem eu sempre tive mania de fugir das coisas, mas dessa vez resolvi encarar, eu não queria parar minha vida por causa disso, então eu passei a ir no parque perto de casa todo dia, comprar pão, até que consegui ira mas longe e fui em uma cidade aqui perto de condução. Ainda me sinto zonza mas sei que não vai acontecer nada, Meus pais quiseram me forçar a tomar calmante, eu tomei porque estava na casa deles mas quando vim para minha larguei e comecei a dormir sem isso e fui melhorando... Mas com dicas força que preciso para cuidar das pessoas ao meu redor.

Mas o que eu acho pior são os médicos, ele sempre optam pelo mais facil, e vendo relatos de pessoas que tem síndrome do panico e tomam remédios a mais de 20 anos e nada de cura, As pessoas se entregam de mais, e difícil resistir, fazer algo quando você não quer, mas nesse casos e que devemos lutar remédios muitas vezes só adormecem a mente ate tiram sua percepção, atenção. Enfim só em casos graves mesmo aqueles sem jeito deveria ser receitados.
Botar culpa na doença por falha de caráter, também não é bom você foge de si mesmo e de resolver tal falha com essa atitude.

Mas olhando por esse lado a mídia engradece os fracos hoje em dia, com soluções maravilhosas e sem logica aonde do nada eles superam tudo, esse modo de ver as coisas também é derivado disso. Quem não quer ser coitadinho se vai ter tal tratamento de pena? Os heróis e heroínas de antigamente ficavam fortes na marra Com Ripley, ela teve todo uma evolução, antes de ficar fortona. Hoje não os heróis ficam fortes sem ter uma logica. isso é um exemplo e bem ou mau está relacionado a essa facilidade de assumir uma fragilidade com desculpa... Bem e o que eu penso.
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