Quero ter filhos, mas engravidar não faz parte dos meus anseios por vários motivos. Como o pensamento de que a mulher serve apenas para ser mãe (biológica!), esposa submissa e dona-de-casa está impregnado na sociedade, vocês devem imaginar que ouço todo tipo de coisa quando revelo esse desejo.
Tenho 24 anos. Não me considero a adultona que já conhece cada truque da arte de viver. Além disso, sei que estou sujeita a mudanças, mas o problema que tenho com essa frase é que uma parte considerável das pessoas que conheço acha que estou velha demais e já deveria estar casada.
É, no mínimo, estranho ouvir que sou muito nova para saber o que quero para minha vida da boca das mesmas pessoas que perguntam se vou “ficar para titia”. Com isso, entendo que é só ir contra uma das ideologias desses seres para eu magicamente me tornar “novinha, burrinha e coitada”.
"Tanta mulher no mundo querendo engravidar..."
Essa é campeã. Líder do ranking “MAS O QUE ISSO TEM A VER?”. O fato de eu engravidar vai ajudar essas mulheres em quê mesmo? A única ajuda que posso oferecer é pedir para Deus conceder o desejo do coração delas (can I hear an AMEN?), porque eu ter um filho biológico não muda nem diminui o sofrimento delas.
"E seu marido? E se ele quiser ter filhos?"
É engraçado como as pessoas já supõem que toda mulher quer e vai casar um dia. Mesmo querendo ter esse tipo de relacionamento, faço questão de perguntar como a pessoa “adivinhou” que quero casar. De qualquer forma, ainda estou solteira, então não sei por que no mundo devo me importar com alguém que ainda nem apareceu. Ah, e se ele quiser ter filhos comigo, vai ter, ué.
"Mas filhos mesmo... De verdade, sabe?"
Essa é uma das que me deixa mais chateada: insistir que o filho não será seu. Como alguém pode perguntar isso e não perceber que é ofensivo? A adoção concede filhos de verdade! Ou um filho biológico é mais filho que um adotado? ESCLAREÇAM.
"Um dia, você vai se arrepender"
Se uma pessoa tem a cara-de-pau de dizer para alguém que pretende ser MÃE (porque a mulher que adota é mãe e isso não depende da sua opinião) que ela vai se arrepender de não ter tido um “filho de verdade”, tentando diminuir o valor daquela criança para ela, não duvido que seja insensível o suficiente para dizer isso na frente do adotado.
"Deve ser até pecado você dizer uma coisa dessas"
Essas são algumas das coisas que já ouvi. Se parassem por aí, talvez fosse mais fácil aturar, mas, em sua maioria, se torna um eterno debate sobre “engravidar e ser mãe de verdade” (?), como se parir estivesse relacionado a ser mãe de alguma forma... Ás vezes, me pergunto se estamos mesmo em 2016 ou se contamos errado.








